ANÁLISE DO TEXTO
OS DEZ LEPROSOS
Por: Iran
Gomes Brito
Seminarista da Diocese de Balsas
Cursando Teologia em BH - MG
Texto: Lc 17, 11-19
1.Tradução instrumental
11E aconteceu que, caminhando para Jerusalém,
Jesus passava entre a Samaria e a Galiléia.
12Quando estava para entrar num povoado,
dez leprosos vieram a seu encontro.
Pararam à distância,
13e gritaram:
“Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”
14Ao vê-los, Jesus disse:
“Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes”.
Enquanto caminhavam,
aconreceu que ficaram curados.
15Um deles, ao perceber que estava curado,
voltou glorificando a Deus em alta voz;
16atirou-se aos pés de Jesus,
com o rosto por terra,
e lhe agradeceu.
E este era um samaritano.
17Então Jesus lhe perguntou:
“Não foram dez os curados?
E os outro nove, onde estão?
18 Não houve quem voltasse para dar glória a Deus,
A não ser este estrangeiro?”
19E disse-lhe:
“Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.
2. Contexto
A perícope 17, 11-19 no contexto amplo, está situada
na subida de Jesus a Jerusalém 9, 51-19,28. Daí que se explica porque Lucas
começa a perícope no v.11, retoma o fio da narrativa, lembrando que Jesus está
a caminho de Jerusalém. E termina no v. 19 com a expressão: “Tua fé te salvou”,
forma de elucidar a intervenção salvífica de Deus e os destinatários do seu
Reino. O samaritano, um dos dez leprosos da narrativa, desempenha papel
principal.
No contexto imediatamente anterior (17, 1-10), Jesus
profere aos discípulos, discursos parabólicos, nos quais fala do pecado, do
perdão e da força alicerçada na fé. Esta, por menor que seja, remove montanhas.
Menciona a inutilidade do empregado que não consegue dar passos além do que lhe
é ordenado. Limita-se às leis. No contexto subseqüente ao episódio da cura dos
leprosos, Jesus volta a falar sobre a vinda do Reino uma vez que o grupo
fariseu, que se sentem justos estão profundamente preocupados no momento pela
chegada do Reino.
3. Elementos históricos e socioculturais
A partir dos dados escriturísticos, constata-se a
lepra era uma doença grave (cf. Ex 4, 6). O indivíduo afetado era condenado ao
isolamento, ao sofrimento e a miséria. Na maioria das vezes as doenças eram
cutâneas (cf. Lv 13-14) de fácil visibilidade. O leproso e o impuro eram
figuras típicas da exclusão sociorreligiosa da época.
No Novo Testamento, essa segregação social aos
poucos vai se modificando a partir do trato de Jesus para com os leprosos (cf.
Mt 8, 2-4 e Lc 17, 11-19). Em Jesus, os excluídos da comunidade experimentam o
encontro com o Deus misericordioso que não apenas cura, mas reintegra na
comunidade.
4. Elementos literários
O estilo literário do texto é narrativo com breve
exortação final: “a tua fé te salvou” (v. 19). E como afirma Eplattenier (1993,
p. 159): “[...] a narração é marcada por termos de ressonância litúrgica: “tem
piedade” (eleison) – “glorificar” (doxazo) – “dar graças” (eucharisteo). A
volta do homem curado e reconhecido é expressa por verbo que em outros lugares
pode traduzir a idéia de conversão (hypostrefo: voltar) [...]”
5. Tradição/ fontes e redação
Na perícope 17, 11-19 não há fonte que Lucas
utiliza. Portanto, é redação própria de Lucas.
6. Análise narrativa
Narra-se a história de dez leprosos. Nove são judeus
e um samaritano. Eles, sabendo que Jesus tinha poder de curá-los e que iria
passar nas proximidades da Samaria e da Galiléia em virtude do seu trajeto em
direção a Jerusalém, dirigem-se a Jesus com um pedido, querem ficar curados
Jesus cura os leprosos, mas sugere que os mesmos
respeitem a lei judaica. Ou seja, devem se apresentar aos sumos sacerdotes.
Estes devem constatar a cura. Ora, Lucas ao trabalhar com as categorias
excluídas, menciona que apenas o samaritano foi grato pela benção de Deus
(v.17). A gratidão, a humildade é aqui sinal da salvação pela fé (v.19).
7. Reflexão exegética
Em sua viagem para Jerusalém, (v.11), Jesus passa
perto da Samaria. Dez leprosos vêm ao seu encontro suplicando-lhe a cura. Ao
curá-los (v. 12), Jesus realiza um ato messiânico, pois, reintegra-os na comunidade
porque por lei, os leprosos eram marginalizados.
Aqueles homens clamam pela misericórdia do
Senhor. Jesus ao curá-los ordena-os a se apresentarem aos Sacerdotes, que
segundo a Lei, deveria cumprir certos rituais para declará-los livres de suas
lepras (cf. Lv 14, 1-32). Ainda no caminho (v. 15), um deles se apercebe
curado. É um samaritano. Este imediatamente volta e se dirige ao Senhor
dando-lhe glória, pois está curado. Obteve sua vida de volta. Por isso,
se joga aos pés do Senhor (v. 16), cheio de gratidão. Jesus pergunta
pelos outros nove (vv. 17-18), alertando que apenas o estrangeiro voltou para
agradecer. A razão é clara, simplesmente os nove ignoraram o Senhor depois que
ficaram curados. São ingratos. A gratidão do samaritano é expressão da
assimilação do projeto de amor do Pai. O essencial nessa narrativa é o
comportamento dos beneficiários depois da salvação.
8. Hermenêutica
Jesus, tocado pela situação de solidão, decepção,
desesperança dos leprosos, cura-os. Essa restauração expressa um processo de
vida e conversão. Porém, a cura completa de Jesus depende do acreditar na
Palavra, reconhecer-se pecador, e agradecer por tudo, porque como nos diz São
Paulo: “Em tudo dai graças ao Senhor!” (1Ts 5, 18).
Para o cristão, dar glória a Deus por seus dons é
sinal de realismo e maturidade. É reconhecer que Deus é a fonte de todos os
dons. Cabe a nós acolher o dom de Deus e louvá-lo na vida diária, através de
gestos que suscitam vida. A gratidão é um sinal da ação do Espírito de Deus no
coração das pessoas.
REFERENCIAS:
BÍBLIA de Jerusalém. Nova ed. rev. e ampl. São
Paulo: Paulus, 2002 (5ª impr 2008).
FABRIS, Rinaldo; MAGGIONI, Bruno. Os evangelhos. São
Paulo: Loyola, 1992. p. 172-173.
KONINGS, Johan. Sinopse dos Evangelhos de Mateus,
Marcos e Lucas e da “Fonte Q”. São Paulo: Loyola, 2005.
STORNIOLO, Ivo. Como ler o evangelho de Lucas. Os
pobres constroem a nova história. São Paulo: Paulus, 2009. p. 154.